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Curso de Operações Especiais – Como se tornar um Caveira!

Esse treinamento, chamado através de sua forma abreviada de COEsp, que dura aproximadamente dezesseis semanas, em Brasília, curso é realizado com uma carga horária aproximada de 1164 horas/aula e preparou a grande maioria dos integrantes da Companhia de Operações Especiais, mas também formou policiais de outros Estados do Brasil, assim como outros integrantes da Unidade foram formados por várias organizações policiais e militares do Brasil e exterior.

O Objetivo do COEsp é capacitar policiais militares (Oficiais e Praças) para o desempenho de missões que exijam especializações e doutrinas relativas às atividades das Operações Policiais Especiais.

As 16 semanas letivas são divididas em fases administrativas que visam a adequação do candidato à rotina do curso. Na fase administrativa, alguns conceitos básicos são repassados a esses policiais, para que eles não iniciem o treinamento carente de alguma habilidade importante que possa eliminá-lo do processo, por exemplo, higiene de campanha, primeiros socorros, acondicionamento de material, topografia, orientação básica e palestras diversas relativas à Teoria das Operações Especiais no mundo.

É um processo de seleção e treinamento, devido suas características de funcionamento. Segundo Chiavenato (2004, p.165), a seleção é o conjunto de procedimentos que visa atrair candidatos potencialmente qualificados e capazes de ocupar posições dentro da organização.

Conforme Marras (2001, p. 145), treinamento é um processo de assimilação cultural a curto prazo, que objetiva repassar ou reciclar conhecimento, habilidades ou atitudes relacionadas diretamente à execução de tarefas ou à sua otimização no trabalho. Já para Minicucci (1995, p. 182), o treinamento pode ser considerado um esforço planejado, organizado, especialmente projetado para auxiliar os indivíduos a desenvolverem suas capacidades.

Esse curso consiste em uma preparação e orientação dos candidatos aos trabalhos específicos da COE, sendo utilizado como um instrumento auxiliar da seleção, que traz como principal vantagem a observação de profissionais mais capacitados. É um treinamento que pode ser chamado de treinamento seletivo, aplicado depois de uma primeira seleção e aliado a uma posterior avaliação dos policiais candidatos, sendo esta uma segunda seleção dentro do mesmo processo, potencializando as chances de se realizar uma boa seleção.

Ao término do curso, momento em que recebeu as informações necessárias ao desempenho de funções, o policial estará habilitado para integrar e realizar as atividades de operações especiais na PMDF ou em sua Instituição de origem.

Processo de seleção

O processo de seleção para o Curso de Operações Especiais é divido em três fases: Exame de Saúde, Teste  Físico e Exame Psicológico e todas as fases tem caráter eliminatório como o exposto a seguir.

Exame de saúde

Os Candidatos interessados em participar de uma edição do COEsp devem apresentar os exames de saúde em duas etapas distintas, para serem considerados inscritos e poder iniciar o curso.

A finalidade dessa etapa é a verificação do estado geral de saúde do candidato, uma vez que estará submetido a intempéries e exigências físicas.

Uma excelente condição de saúde é fundamental para sustentar as dificuldades do treinamento, pois naturalmente o corpo ficará debilitado devido as dificuldades do curso. Caso algum problema venha a ser identificado durante o exame de saúde, o policial não poderá iniciar o treinamento seletivo, para não expor ao risco a própria vida.

Primeira etapa

O candidato deve apresentar, no ato da inscrição, a Carteira de Saúde com o exame de bienal[1] em dia, juntamente com um atestado de saúde recente, constando que o candidato encontra-se apto para a realização do teste físico.

Segunda etapa

Os candidatos que porventura forem aprovados na primeira etapa do exame de saúde, deverão apresentar os exames complementares.

Os exames exigidos nessa fase são: exame otológico e audiométrico;  exames laboratoriais, tais como, hemograma completo, HIV inclusive, glicose e radiografia do pulmão. Os exames complementares são entregues após a realização do exame psicológico.

Teste físico

Os índices especificados para o teste físico configuram como o mínimo exigido para que o candidato seja considerado aprovado e que possa fazer parte do processo de seleção e treinamento, sendo que nos exercícios de flexão de barra, flexão de braço, abdominal, salto em distância, corrida e natação, são atribuídas classificações aos aprovados a partir do candidato que alçar os melhores índices, para não ocorrer empates e possíveis eliminações de candidatos de forma injusta. Nos exercícios de subida na corda, salto em altura e flutuação(fardado e de coturno – 30min), os candidatos são considerados somente “aptos” ou “inaptos”.

O teste seletivo tem caráter eliminatório e em caso de empate dentro das vagas previstas, o critério adotado para o desempate é o da antigüidade de posto e graduação. Os civis são considerados como mais modernos em relação a militares.

Quadro nº 1 –  Índices do teste de aptidão física – COEsp.

PONTOS Natação200 m Corrida Rústica 8km Abdominal Flexão de Braço em Barra Fixa Flexão de Braço Salto em Distância (metros)
60 5’00” 50’ 48 10 35 4,00
62 4’50” 49’ 50 11 38 4,10
64 4’40” 48’ 52 12 41 4,20
66 4’30” 47’ 54 13 44 4,40
68 4’20” 46’ 56 14 47 4,50
70 4’10” 45’ 58 15 50 4,60
72 4’00” 44’ 60 16 53 4,70
74 3’50” 43’ 62 17 56 4,80
76 3’40” 42’ 64 18 59 4,90
78 3’30” 41’ 66 19 62 5,00
80 3’20” 40’ 68 20 65 5,10
82 3’10” 39’ 70 21 68 5,20
84 3’00” 38’ 72 22 71 5,30
86 2’50” 37’ 74 23 74 5,40
88 2’40” 36’ 76 24 77 5,50
90 2’35” 35’ 78 25 80 5,60
92 2’30” 34’ 80 26 83 5,70
94 2’25” 33’ 82 27 86 5,80
96 2’20” 32’ 90 28 90 5,90
98 2’15” 31’ 95 29 95 6,00
100 2’10” 30’ 100 30 100 6,10

Fonte: Plano de Curso 5º COESP (2008).

Exame psicológico

O Exame de aptidão psicológica, que também possui caráter eliminatório, é, via de regra, realizado sob a coordenação do CASO/PMDF e tem por finalidade distinguir, dentre os candidatos, os policiais que não apresenta um perfil de trabalho dentro do perfil profissiográfico previsto para a unidade, produzido através do trabalho da psicóloga Ana Lidia Gomes Gama – CRP 6260-01.

E de acordo com item 2.6.2, anexo “A“, do estudo de situação para criação do Batalhão de Operações Policiais Especiais – BOPE, da Polícia Militar do Distrito Federal, o perfil profissiográfico desejado, agrega as seguintes características:

Agressividade controlada – restringir seu comportamento agressivo à necessidade da situação, conforme o prescrito nos procedimentos e doutrina. A agressividade deve ser utilizada como uma ferramenta, de forma consciente e livre de motivações do âmbito pessoal. Utilizar apenas o necessário para proteger a si, a Equipe e as vítimas.

Controle emocional – controlar suas emoções, como medo ou raiva, pautando suas ações pelas normas, procedimentos e doutrina. Separar problemas pessoais de problemas profissionais.

Disciplina consciente – antes de comportar-se, monitorar os diversos aspectos do ambiente físico e social, fazendo interpretações acuradas quanto ao que exige esse ambiente em termos de comportamento. Vasculhar seu repertório comportamental e emitir comportamentos considerados desejados, não necessariamente o que tem vontade ou o que seu estado emocional pede.

Espírito de Corpo – em situações de trabalho, cumprir o que foi acordado, usar de seus conhecimentos e habilidades para promover o bom desempenho e segurança de todos, tomar o sucesso do grupo como seu e vice-versa.

Flexibilidade – ter aptidão para resolver problemas, principalmente no plano lógico abstrato, ser dotado de poder de previsão e planejamento. Ter capacidade de descobrir os princípios subjacentes às mudanças sistemáticas, incluindo raciocínio indutivo e dedutivo.

Honestidade – ser uma pessoa conscienciosa acerca de questões relativas à moralidade, ética e valores. Dedicar-se ao trabalho e à produtividade, ter a sinceridade como principio básico.

Iniciativa – havendo um acionamento, colocar-se à disposição. Ao detectar problemas de qualquer natureza, comunicar-se da forma mais adequada à situação e/ou agir conforme os procedimentos prescritos e a doutrina. Dar cobertura(proteção) sempre que necessário, sem necessariamente esperar ordem. Agir prontamente, respeitando os procedimentos, autoridade e doutrina.

Lealdade – Imparcial em suas atitudes e mostrando fidelidade ao comando, eximindo-se do caráter pessoal em suas atividades diárias administrativas e operacionais.

Liderança – exercer influência natural sobre o grupo no que se refere à tomada de decisão. Discutir idéias abertamente, recebendo e fazendo críticas de maneira ponderada. Agir como um motivador do grupo em momentos difíceis.

Perseverança – resistência à frustração, manter-se em uma linha de atividade consistente mesmo após fracasso momentâneo ou retro alimentação negativa, utilizar-se de situações mal-sucedidas para aprender e aperfeiçoar-se, manter o ânimo mesmo diante do fracasso ou de tarefas que pareçam muito difíceis ou penosas.

Versatilidade – diante de situações novas ou mudanças na situação, propor novas formas de ação com os recursos disponíveis, de acordo com as normas e procedimentos ou conhecimentos técnicos, com eficiência e eficácia.

Alguns deve estar dizendo, mas estes são os mandamentos das operações especiais, sim, são! Mas é isto que procuramos em nosso policiais. Um conjunto destas características, que agreguem um profissional, vamos dizer assim: ideal!

Além destas características, procura-se profissionais que possuam ainda as seguintes características: autocrítica, comunicabilidade, discrição, dinamismo,  direção, meticulosidade, previsão, persuasão, perspicácia e sociabilidade.

A presença de candidatos de outras instituições é uma constante, todos os cursos tiveram praticamente a presença, seja de militares ou policiais de várias regiões do Brasil.

Os planos de curso, geralmente, sugerem as seguintes regras para a inscrição de profissionais de outras corporações, os seguintes parâmetros:

  • Os candidatos de outras Corporações devem apresentar todos os exames médicos especificados;
  • Independentemente  dos testes físicos realizados nas corporações de origem, caso forem exigidos, todos os candidatos de outras Instituições são submetidos aos testes físicos, de caráter eliminatório, contidos na tabela acima novamente, por motivos de segurança;
  • Pode ser dispensada a apresentação do Exame Psicológico aos candidatos de outras Corporações, este exame e verificação do perfil do policial ou profissional, ficará a cargo das Instituições de origem do candidato, por não possuírem vínculo operacional de trabalho com a PMDF.

E concluída essas etapas, o candidato inicia o referido treinamento, é matriculado no curso e passa a chamar-se a partir de então de aluno, momento em que recebe uma numeração de acordo com seu Posto ou Graduação.

O maior número de desistências ocorre nos primeiros dias, após a semana administrativa, no apelidado “módulo impossível”, com o desligamento aproximado de 45% dos inscritos, seja por problemas médicos ou pela ausência da vontade em continuar o treinamento.

Matérias do curso de operações especiais

A cada edição do Curso de Operações Especiais é feita uma avaliação das matérias do treinamento, para levantar que atividades novas tornaram-se interessantes a partir da época, adequando às novas tecnologias ou ainda, extraindo do currículo do curso, aquela atividade que não agrega valor técnico para atividade.

Em edições passadas, os alunos recebiam treinamento em cavalaria, que foi eliminada para aproveitamento da carga horária em outras matérias mais interessantes, como tiro, explosivos, gerenciamento de crises e direitos humanos.

As inovações tecnológicas também tem influenciado na inclusão de algumas matérias que até então não faziam parte do currículo, como é o caso da matéria informática aplicada à atividade de operações especiais, onde os policiais aprendem a utilizar os recursos tecnológicos disponíveis nas ocorrências policiais de forma eficiente.

A seguir temos uma tabela com as matérias do curso e a respectiva carga horária.

Quadro nº 2 – Matérias do COEsp e carga-horária.

Área de Ensino Nº de Ordem Matérias Carga Horária
Profissional
01 Teoria das Operações Especiais 12
02 Socorros de Urgência e Ofidismo 48
03 Instrução Tática e Individual 60
04 Patrulha Policial 54
05 Sobrevivência no Cerrado 48
06 Topografia e Orientação 36
07 Técnicas Verticais 72
08 Treinamento Físico Específico 54
09 Combate Corpo a Corpo 54
Profissional 10 Armamento e Munição 36
11 Técnicas Especiais de Tiro 48
12 Inteligência Policial 12
13 Comunicações 12
14 Direitos Humanos 12
15 Operações Químicas 30
16 Atirador Policial de Precisão 36
17 Informática aplicada a atividade de operações especiais 12
18 Salvamento Aquático 36
19 Patrulhamento Tático e Abordagem 24
20 Combate a Incêndios 12
21 Operações Subaquáticas 36
22 Gerenciamento de Crises 24
23 Ações Táticas Especiais 84
24 Técnicas de Negociação 36
25 Ações Antibomba e Contrabomba 42
26 Segurança de Dignitários 48
27 Operações Helitransportadas 36
28 Pára-quedismo Operacional 24
29 Operações de Choque 18
30 Operações com cães 12
Soma da área de Ensino Profissional 1068
Atividades Complementares 01 À Disposição da Coordenação 96
Soma da área de Atividades Complementares 96
SOMA DA CARGA LETIVA TOTAL 1164

Fonte: Plano de Curso 5º COEsp/PMDF (2008).

Fases do curso de operações especiais

No decorrer das dezesseis semanas, o aluno do COEsp irá encarar as três  distintas fases em que o curso está dividido:

–        A fase rústica;

–        A fase policial; e

–        A fase técnica.

E visando esclarecer, de forma bem objetiva o que compreende cada uma das fases, será apresentado adiante um esquema com as matérias abordadas em cada momento do curso.

Fase rústica

A fase rústica tem por objetivo trabalhar o lado intuitivo e o emocional no policial.  Nesta fase, o aluno deve procurar saber e conhecer como o frio, o medo, fome, calor e cansaço atuam em sua mente e no seu corpo. É a fase na qual irá  conhecer suas fraquezas e deverá aprender a controlá-las.

O aluno deve ter noção do seu limite físico e psicológico, deve aprender a superar a dor e o cansaço físico, com foco na resiliência, importante para as outras atividades.

A coordenação vai verificar como o grupo se comporta diante das dificuldades. E aqui existe a preparação do homem fisicamente e emocionalmente para recebimento da bagagem técnica.

O interessante dessa fase é a percepção, por parte da coordenação, do desenvolvimento psicológico que o policial apresenta e as formas de como supera as dificuldades das tarefas impostas, ultrapassando seus limites físicos e psicológicos.

Nessa etapa, alguns exercícios que exijam desempenho intelectual, principalmente em assuntos relacionados a planejamento de operações e emprego tático de pessoal, além da avaliação correta de como atuar em qualquer ambiente.

A fase seguinte, a fase policial, aproveita as características da fase rústica, preparando o aluno para a próxima fase.

Na fase policial serão enfatizadas as qualidades pessoais bem como habilidades e atividades que exijam uma boa coordenação motora.

Continua…


[1] Exame médico obrigatório aos Policiais Militares da ativa da PMDF, deve ser realizado de dois em dois anos, mas aos Policiais acima de 40 anos passa a ser realizado de ano em ano. Outras instituições possuem avaliações semelhantes.